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quarta-feira, 22 de janeiro de 2025

A Balança comercial de 2024 e as incertezas para 2025

Foto: Tânia Rego/Agência Brasil


A queda do superávit da balança comercial de US$ 98,9 bilhões para US$ 74,6 bilhões entre 2023 e 2024 foi resultado de um recuo no valor exportado em -0,8% e um aumento no valor importado de +9,0%. O crescimento do volume exportado em 2024/2023 (+2,8%) foi menor do que em 2023/2022 (+8,7%), mas os preços caíram menos em 2024/2023 (-3,4%) do que em 2023/2022 (-6,4%). No entanto, a principal diferença foi o comportamento do volume importado, uma queda em 2023/2022 (-2,2%) e um aumento de +15,8%, em 2024/2023. Assim como nas exportações, o recuo nos preços das importações foi menor em 2024 do que em 2023 (Gráfico 1).

 

Foi, portanto, o comportamento dos volumes dos fluxos comerciais mais do que os preços que determinaram a redução do superávit comercial.
 

Quando se divide as exportações em commodities e não commodities, observa-se que o volume exportado das commodities aumentou em +4,1%, mas os preços recuaram em -5,5%, entre 2023 e 2024. Já as não commodities registraram zero de crescimento e aumento de preços de +1,3%. Na comparação entre 2022 e 2023, no volume exportado das commodities foi +14,2% e os preços recuaram -9,3%. O desempenho das commodities foi, portanto, pior em 2024 em termos de volume (Gráfico 2).
 

A evolução do índice do volume exportado das commodities mostra uma trajetória ascendente com um único recuo em 2021 (-1,9%). Após um aumento de +14,0%, em 2023, o resultado de 2024 repete o de 2022, +4,1% (Gráfico 3).
 

Os preços de exportações das commodities mostram uma evolução mais volátil e, após o pico de 2022 (+13,9%), a taxa de crescimento desacelerou, sendo negativa em 2023 e 2024 (Gráfico 4).


Os preços das importações de commodities e não commodities registram uma queda menor em 2024 comparada com a variação de 2023/2022. No caso das commodities, os preços recuaram -17,3% e -7,8%, em 2023 e 2024, respectivamente. A principal diferença está no comportamento do volume. Em 2023, a variação das commodities foi de -3,5% e das não commodities de -2,0%. Entre 2023/2024, a variação foi de +5,0% e +17,7% das não commodities. O aumento das importações foi, portanto, liderado, pelas não commodities (Gráfico 5).
 

Quais as perspectivas das commodities brasileiras para 2025 no cenário Trump?


No caso das commodities, as principais commodities brasileiras exportadas para os Estados Unidos foram: petróleo bruto (participação de 14% no total das exportações brasileiras para o país); semimanufaturados de ferro ou aço (8,8%); café (4,7%); óleos combustíveis (4,3%); celulose (4,2%); ferro gusa (4,4%); sucos (3%) e carne (2,3%). Nesse cenário, além de produtos de siderurgia, lobbies protecionistas podem demandar restrições para sucos e carne. No caso de petróleo, não é claro se a promessa de aumentar a exploração do petróleo no território dos Estados Unidos seja acompanhada de restrições, pois o preço aumentaria. A imprevisibilidade de Trump cria um cenário desfavorável para as transações comerciais.
 

A variação dos termos de troca entre 2023 e 2024 foi de +2,5%, menor do que entre 2022 e 2023, +3,7% (Gráfico 6). Nesses períodos, a variação dos preços exportados e importados foi negativa como vimos no Gráfico 1. A diferença é que em 2024, a diferença entre o preço exportado e o importado foi menor do que em 2023. Desde 2022, os termos de troca registraram uma trajetória ascendente bem suave.
 

A análise por setor de atividade das exportações mostra a diferença entre 2023/2022 e 2024/2023 (Gráfico 7). Em 2023, a agropecuária liderou o aumento no volume exportado (+25,0%), seguida da extrativa (+16,5%) e queda na indústria de transformação (-0,4%). Em 2024, a extrativa liderou (+6,8%), seguida da transformação (+3,2%) e queda na agropecuária (-1,4%). As menores taxas de variação da agropecuária e da extrativa explicam a piora do desempenho das commodities em 2024 em comparação com o resultado de 2023/2022. Na comparação entre 2023 e 2024, apenas a indústria de transformação registrou uma melhora.
 

As exportações de óleo bruto de petróleo passaram a ocupar a primeira posição na lista das principais exportações brasileiras no lugar da soja, embora a diferença seja pequena em termos de participação: petróleo (13,3%) e a soja (12,7%).
 

Foi ressaltado que a variação no volume exportado das commodities foi positivo (+4,1%) entre 2023 e 2024, mas, como o resultado da agropecuária foi negativo, foi a extrativa e as commodities que pertencem à indústria de transformação que contribuíram para esse aumento. A variação na extrativa já foi mencionada, +6,8%, e das commodities da transformação, o aumento foi de +7,5% com recuo de preços de -0,5%. Esses produtos representaram 49% do total das exportações da indústria de transformação e 27,5% do total das exportações, enquanto o percentual da agropecuária foi de 20,1% e da extrativa de 24%. Logo, foram as commodities da indústria de transformação que explicaram o aumento no volume exportado desse setor e sua contribuição para o aumento das commodities totais supera o da extrativa e da agropecuária. A variação do volume exportado das não commodities foi -0,7%.
 

Nas importações, todos os setores registraram variação positiva em 2024/2023 e queda nos preços. Em 2023/2022, a variação do volume havia sido negativa para todos os setores. O aumento no volume importado da agropecuária (+31,6%), em 2024, não influenciou o resultado agregado, pois o setor explicou 2,1% das importações totais. A principal contribuição é da indústria de transformação (+16,3%) que explicou 92% do total das importações em 2024 (Gráfico 8).
 

A concentração das importações na indústria de transformação nos leva a registrar as variações no setor por categoria de uso. As participações no total importado da indústria são: bens intermediários (65,3%); bens de capital (17,6%); bens duráveis de consumo (4,9%); bens não duráveis de consumo (9,1%); e, bens semi-duráveis (3,1%). O Gráfico 9 mostra que para todas as categorias foi registrado um avanço nas importações, na comparação das variações entre 2023/2022 e 2024/2023. O aumento das principais categorias, bens de capital e bens intermediários, está associado ao crescimento da indústria de transformação em 2024.
 

O aumento dos bens duráveis, desde 2023, é explicado principalmente pela importação de veículos elétricos que tinham suas tarifas de importações menores do que para veículos convencionais. O governo tem elevado as tarifas desses produtos, mas há uma demanda que chegue a 35%, para igualar os carros convencionais (Gráfico 9).
 

O Gráfico 10 mostra a evolução do índice de volume dos setores de atividade. O setor de agropecuária apresenta uma trajetória ascendente com níveis superiores aos dos outros setores. A variação entre 2008 e 2024 foi de +309% para a agropecuária, +126% para a extrativa e +113% para a transformação. Essa última, apesar da melhora em 2024, continua a registrar o pior desempenho ao longo do período selecionado.
 

O desempenho dos setores se traduziu em mudanças na estrutura de participação nas exportações totais (Gráfico 11). Entre 1998 e 2023, a agropecuária aumentou sua participação de 9,9% para 23,1%. Em 2024, o recuo nas exportações levou a uma queda na participação para 20,0%. A participação da extrativa passou de 7,2% para 23,3% entre 1998 e 2023 e aumentou para 24,0% em 2024. A participação da transformação caiu de 82,9% para 53,4% entre 1998 e 2023 e aumentou para 55,9%, em 2024. Reverter essa mudança estrutural não parece ser factível nos próximos anos.
 

O aumento no volume importado de máquinas e equipamentos e de bens intermediários na indústria de transformação comparado com os resultados para a agropecuária atesta a melhora do desempenho da indústria, em 2024. Chama atenção que em 2023/2022, a variação nas compras de máquinas e equipamentos foi de +1,5% para a transformação e de +24,5% para a agropecuária. No ano de 2024, o resultado para a agropecuária foi negativo, -9,0%, e para a transformação foi positivo, +24,5% (Gráfico 12).
 

Ressalta-se que a redução do superávit da balança comercial veio do aumento do déficit da indústria de transformação de US$ 37,8 bilhões para US$ 51,3 bilhões (diferença de US$ 13,5 bilhões), seguido da queda do superávit da agropecuária de US$ 74,3 bilhões para US$ 62 bilhões (diferença de US$ 12,2 bilhões). O saldo positivo da indústria extrativa passou de US$ 62,9 bilhões para US$ 64,7 bilhões, um aumento de US$ 1,8 bilhões (Gráfico 13).
 

Por mercados, a redução do superávit da balança comercial em 2024 em relação a 2023 é explicada principalmente pela queda no saldo da Ásia e da América do Sul, na análise dos saldos bilaterais. Essas quedas são associadas aos resultados dos saldos da China e da Argentina. O superávit da China caiu de US$ 51,2 bilhões para US$ 30,8 bilhões e da Argentina de US$ 4,7 bilhões para US$ 200 milhões. Uma contribuição de US$ 24,9 bilhões para a queda do saldo da balança. Para a América do Norte, o saldo melhorou com a redução do déficit com os Estados Unidos (Gráfico 14).
 

Se excluirmos a China da Ásia, o superávit passa para US$ 17,9 bilhões em 2023 e US$ 17,0 bilhões, em 2024. No caso da exclusão da Argentina da América do Sul, a queda é maior, de US$ 9,9 bilhões para US$ 6,0 bilhões. O que leva a supor que no caso da Ásia, é possível identificar outras regiões com resultados positivos. Um exemplo é a ASEAN (Associação de Nações do Sudeste Asiático), com superávit de US$ 15,1 bilhões em 2023 e US$ 15,5 bilhões, em 2024. A diferença não é grande, mas mostra que as exportações brasileiras registram desempenho favorável em outros mercados asiáticos, fora a China. A exclusão dos Estados Unidos da América do Norte eleva o superávit da América do Norte de US$ 5,4 bilhões para US$ 5,6 bilhões, pois os saldos com o México e o Canadá são positivos.
 

Em relação às outras regiões, há melhora no saldo para o Oriente Médio (+US$ 3,6 bilhões), África (+1,6 bilhões) e, com valores menores que um bilhão, para a União Europeia e a Oceania.
 

Os resultados dos volumes exportados mostram a redução para a China (-1,8%) e para a Argentina (-16,0%). Observa-se que para a Ásia, exclusive China, o volume exportado cresce, mas para a América do Sul, exclusive Argentina, as exportações caem. Esse resultado sugere que o Brasil encontrou mais mercados para aumento das suas exportações na Ásia do que na América do Sul. No caso das importações, a China lidera o aumento do volume das compras externas brasileiras, seguida da Argentina e demais países da Ásia. Para todos os outros mercados é registrado aumento (Gráfico 15 e 16).
 

Até o momento, o governo Trump não anunciou qual será o seu pacote de tarifas de importações. Já determinou a abertura de investigações pelos órgãos competentes, como United States Trade Representative sobre práticas desleais, danos à indústria doméstica dos Estados Unidos, prejuízos às empresas estadunidenses em territórios estrangeiros, entre outros. Não se sabe, porém, se serão impostas tarifas de importações generalizadas que incidam sobre todos os produtos e países e/ou tarifas seletivas. Também não se sabe se as medidas protecionistas serão mais utilizadas como instrumento de pressão para obter concessões e, logo, serão utilizadas de forma seletiva e direcionada para alguns países. Um exemplo é o anúncio de uma possível tarifa de 25% sobre produtos mexicanos para garantir o controle do fluxo migratório na fronteira.
 

O fato é que a elevação das tarifas de importações, dependendo da extensão da medida, eleva a taxa de inflação e valoriza o dólar. Para o Brasil, pode trazer mais dificuldades para o controle da inflação e a desvalorização, para beneficiar os exportadores, precisa ser em termos reais o que irá depender da variação do câmbio nominal dividido entre o índice de paridade da moeda brasileira em relação ao dólar. Ademais, como já mencionado, a imprevisibilidade do Presidente Trump em relação à questão do pacote tarifário traz custos para o comércio internacional. Quanto à China, é preciso esperar para observar quais serão as medidas protecionistas que além de tarifas devem incluir restrições às empresas.


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