O discurso do novo presidente dos EUA, Donald Trump, em sua posse nesta segunda-feira, trouxe temas amplamente esperados e deixou outros sem grandes esclarecimentos.
Um dos tópicos mais aguardados, relacionado às amplas tarifas de importação prometidas em campanha e fonte de estresse nos mercados recentemente, não foi protagonista do discurso de posse. Ele mencionou que os EUA irão rebalancear o comércio exterior cobrando impostos de países estrangeiros, mas fez poucos acenos a tarifas pagas por americanos sobre bens e produtos importados. Em documento à imprensa, a Casa Branca mencionou que uma das prioridades do novo governo é estabelecer uma política comercial focada na América primeiro (“America Fisrt Trade Policy”).
Esse ponto é especialmente importante para os mercados, porque pode significar choques inflacionários - ainda que de curto prazo. Tarifas de importação tendem a ser repassadas aos consumidores via aumento de preços, e o Federal Reserve tem encontrado dificuldades em manejar a política monetária para trazer a inflação de volta à meta de 2% ao ano. Essas dificuldades mantêm os juros em patamares elevados e é negativa para os ativos de risco. Conversas de Trump com a China trouxeram alívio e expectativa de que as negociações podem aliviar essas medidas, e será importante acompanhar as falas do novo presidente sobre o tema nos próximos dias.
Outra política potencialmente inflacionária esperada para esse governo também foi mencionada no discurso: uma declaração de emergência nacional na fronteira do país visando combater a imigração ilegal. Ele também mencionou retomar um programa iniciado em seu primeiro mandato (e encerrado em 2022) em que dezenas de milhares de mexicanos solicitantes de asilo foram mandados de volta para o México para aguardar a análise de seus casos na corte de migração dos EUA. Também mencionou outras medidas, como fortalecer a segurança nas fronteiras e designar cartéis como organizações terroristas. Medidas anti-imigração podem ser inflacionárias porque imigrantes são parte relevante da força de trabalho dos EUA (cerca de 20% do total), e seus salários são, em média, 89% dos salários de nativos americanos nas mesmas ocupações. Vale lembrar que efeitos inflacionários ligados a salários mais altos são mais duradouros e têm maior complexidade para serem combatidos.
Como esperado, Trump disse que irá declarar uma emergência nacional em energia, em um esforço para produzir mais petróleo e gás natural, visando controlar a inflação. Existe a expectativa de que Trump reverta uma ordem de Joe Biden que restringia a exploração de combustíveis fósseis em territórios americanos fora dos EUA. O setor de energia já vinha sendo destaque dentro do “Trump Trade”, justamente na expectativa por políticas como essa. O preço do petróleo hoje tem queda, respondendo à expectativa de uma maior oferta e aos avanços no acordo de cessar-fogo entre Israel e Hamas.
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