Caraúbas/RN - Foto: Wikipedia |
Uma onda de populismo de eventos se alastra pelo Rio Grande do Norte, transformando festas e shows em um terreno fértil para a incineração de recursos públicos. Prefeitos de diversos municípios parecem ter adotado uma estratégia política que vincula popularidade a investimentos vultosos em espetáculos, muitas vezes em detrimento de necessidades essenciais da população. O cenário, agravado por índices alarmantes de analfabetismo, favorece um maquiavelismo cruel e pragmático.
Um dos casos mais emblemáticos ocorre em Caraúbas, cidade localizada no oeste potiguar, com uma população de menos de 20 mil habitantes, conforme o Censo de 2022. A administração municipal desembolsou R$ 500 mil para contratar a dupla sertaneja Matheus e Kauan, atração principal da festa do padroeiro católico da cidade. Uma consulta ao Portal da Transparência revela uma lacuna preocupante: não há especificação sobre a origem dos recursos utilizados.
O retrato socioeconômico da cidade acentua o caráter controverso do gasto. Segundo dados do IBGE, apenas 13,4% dos habitantes de Caraúbas possuem ocupação formal, e a renda média da população não atinge dois salários mínimos. Em 2023, 92,29% do orçamento municipal teve origem em receitas externas, evidenciando a dependência financeira da cidade em relação a repasses governamentais.
A dupla sertaneja não foi a única atração custosa. Outras contratações milionárias incluem o Grupo Matuê (R$ 400 mil), a Banda Bonde do Brasil (R$ 150 mil) e o cantor Natanzinho Lima (R$ 350 mil). Somados, os valores ultrapassam R$ 1,4 milhão, um montante que suscita questionamentos sobre a viabilidade e a prioridade desses investimentos.
Enquanto em estados como Minas Gerais e Paraná o Ministério Público tem atuado com rigor para coibir o que se convencionou chamar de “política do pão e circo”, no Rio Grande do Norte a situação parece distinta. Observa-se uma aparente inércia do Ministério Público local, cuja ausência de ações mais contundentes permite que os gastos com entretenimento continuem a drenar os cofres públicos sem o devido escrutínio.
A sociedade potiguar, diante desse cenário, enfrenta o desafio de exigir transparência e responsabilidade na gestão dos recursos públicos. Sem uma mobilização cidadã consistente e sem a atuação firme das instituições fiscalizadoras, a prática do populismo de eventos tende a se perpetuar, aprofundando as desigualdades e comprometendo o desenvolvimento regional.
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