Ó céus, ó tempos! Eis que a infâmia, qual um espectro depravado, assombra a cidade de Caicó, e não há quem a combata! Com a vilania dos que deveriam zelar pela res publica, a Câmara Municipal, em conluio ignominioso, escolheu as sombras do Carnaval para perpetrar seu ludíbrio. A escassa luz da virtude, que ainda restava na política local, ofuscou-se diante da cupidez, pois não bastou aos edis a traição à moral pública, sancionaram-na com a chancela de um prefeito que, antes de administrador, é animador de micaretas e anunciador de emendas parlamentares.
E onde está o brado dos que se arrogam defensores dos oprimidos? Onde as vozes dos sindicatos, que outrora proclamavam altaneiramente sua missão em prol do interesse coletivo? Silêncio. Um silêncio sepulcral, comprometedor, indigno. A omissão tornou-se sua conselheira, e a leniência, sua ação política. A cidade, que já teve homens de fibra e caráter, jaz agora prostrada sob o domínio de uma oligarquia de tristes figurinhas carnavalescas, embebidas do mesmo néctar pestilento da corrupção e do clientelismo.
E mais hediondo se torna o escárnio quando se constata que nem mesmo os que, em tese, deveriam representar o labor e a justiça escaparam ao rebanho da ignomínia. A única vereadora de um partido que outrora se dizia defensor dos trabalhadores, em vez de empunhar a bandeira da resistência, vergou-se à conveniência, traçando na história municipal uma página de apostasia moral.
Eis a sociedade civil, então, destituída de liderança, órfã de integridade, convertida não em fórum de cidadania, mas em mero séquito de foliões. E assim marcha Caicó, não para o progresso, mas para o esfacelamento da ordem social, pois, na ausência de um corpo social orgânico e vigilante, é o crime que toma as rédeas do destino. Se a política se faz de marionete dos interesses espúrios, se os sindicatos renunciam ao seu papel de guardiães da justiça social, se a cidadania abdica de seu dever de insurgência contra a infâmia, o que nos resta?
A anarquia do poder paralelo, a desordem institucionalizada, o império da força sobre o direito. Já não há réstia de dúvida: onde a honra se cala, onde a ética sucumbe, o crime se ergue. E a cidade, antes berço de homens dignos, caminha inexoravelmente para se tornar súdita do império da delinquência.
*Até o momento nenhuma manifestação foi convocada, nem pelo sindicato dos professores que ganham menos de metade do salário de um vereador e pouco mais que seu novo auxílio-alimentação.
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