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sábado, 8 de março de 2025

Terá Caicó se tornado uma cidade de idiotas?



Não sei, meu amigo, se o tempo nos fez mais sábios ou apenas mais resignados. Outrora, Caicó ostentava o orgulho de sua preeminência política, ditando rumos ao Rio Grande do Norte com altivez e compostura. Mas eis que, ao sabor das décadas, a cidade trocou a eloquência pela algazarra, a política pela pantomima, a razão pela embriaguez dos sentidos.


Dizem que o idiota, em sua origem grega, é aquele que se aparta da política. Se assim for, convenhamos, Caicó fez-se um retiro de ascetas desavisados. Ouve-se com frequência o brado cansado: "Que passe logo essa política!" – como se fosse uma febre incômoda, e não a argamassa da vida pública. Mal sabem que fazem política ao reclamar da rua esburacada, da coleta incerta, do imposto injusto. Mas, ai deles, preferem a indiferença, e a indiferença, como se sabe, é o primeiro degrau para a servidão.


Um dia, a cidade foi régia. Hoje, reduziu-se a corte de bufões. O demagogo da abóbora, mestre das massas, entendeu cedo que um estômago cheio e um ouvido entretido valem mais do que mil promessas. E assim fez: converteu a política em espetáculo e a prefeitura em empresa de eventos. Sua obra, consolidada há quinze anos, chega agora ao apogeu nas mãos do discípulo Judas, um produtor de folguedos mais afeito ao tilintar dos copos que ao crepitar dos discursos.


A cidade, entregue a esse fausto vulgar, consente. Aplaude-se o reles, celebra-se o grotesco. Substitui-se a grandeza pela pirotecnia, a reflexão pelo batuque. Como se não bastasse, ri-se da crítica, essa incômoda senhora. O próprio demagogo, homem de posses, ri com gosto, vestindo farrapos estudados e um boné de carnaval, como se quisesse misturar-se à turba sem jamais pertencer-lhe de fato. Ah, o carnaval! Festa do esquecimento, feriado do pensamento, trégua da lucidez.


Mas nem tudo está perdido. Se há remédio para a alma entorpecida, talvez esteja na música. Não essa música que hoje invade os salões e os rádios, empobrecendo o espírito com suas rimas fáceis e seus ritmos entorpecentes. Falo da música que enobrece, que ensina, que cultiva. Que seja ensinada nas escolas, que ressoe nas praças, que desperte o que resta da antiga altivez. Pois sem arte, meu caro, uma cidade não passa de uma feira barulhenta onde o único pregão ouvido é o da própria decadência.

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