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por José Nêumanne Pinto*
“Eu fiquei tão triste, eu fiquei tão triste naquele São João. Porque você não veio, você não veio alegrar meu coração.” Esta é uma marcha junina que acompanha minha vida desde 1967, quando tinha 16 anos e dançava quadrilhas juninas marcadas em francês com sotaque sertanejo (en avant tous, en arrière) pelo leiloeiro da paróquia da Jesus, Maria e José em Uiraúna, no sertão do Rio do Peixe, Paraíba, Raimundo Josias, o popular Ganga. Quis o destino que esse sucesso do Trio Nordestino vem ao teclado do meu computador agora para lamentar o primeiro festejo junino sem seu autor, então sozinho, mas logo depois com a parceria de sua eterna companheira, Cecéu. Após haver ouvido outros êxitos da época, como De Madrugada e Brincadeira na Fogueira, ele passou a ser companhia permanente no maior São João do mundo em Campina Grande, PB.
Nascido em Queimadas há 95 anos, ele, quando morava no Rio de Janeiro e tocava pandeiro num navio, foi a Campina Grande, onde conheceu Mary Maciel Ribeiro, a Cecéu, mãe de Maíra, em homenagem de quem escrevi uma letra que ele musicou. Essa parceria inesperada ocorreu depois que tivemos um rápido encontro no camarim de Elba Ramalho num show em São Paulo e de haver partilhado com o casal, a convite de Zé Ramalho, uma mesa no Olympia, casa de shows do bairro paulistano da Lapa. Desde então tenho gozado da amizade da dupla e de seus enormes sucessos. Tudo começou em Campina Grande. “Estava escrito nas estrelas, porque aos meus nove anos eu estudava no colégio São Vicente de Paula e já ia cantando música de Antônio Barros. Em 1971, quando nos conhecemos, ficamos sete meses conversando, e Antônio voltando para o Rio, passou esse tempo lá, quando voltou ele disse para nos unir e fazer uma dupla, porque eu já tinha alguns trabalhos feitos. E e u disse: topo”, contou Cecéu em 2020. Morando no Rio, o casal estreitou as relações com os reis da música nordestina, Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro, amigos que não deixaram ambos de avisar: “Não confie nesse neguim” – um sobre o outro.
Lançada pelo grupo Os 3 do Nordeste em 1974, Homem com H, da parceria do casal, foi propagada pelo cantor em escala nacional em gravação feita para o álbum Ney Matogrosso (de 1981). O título foi também o do musical produzido sobre a vida do grande cantor. O teatro desabou com o público cantando o sucesso em uníssono. Certo Dia, Antônio encontrou-se com Ney nos bastidores de uma gravação num estúdio de TV e lhe foi apresentado, enfim, ao compositor, a quem não teve dúvidas em noticiar que tinha produzido outro hit para o grande intérprete a quem apresentou Por Debaixo dos Panos. Outro baita êxito popular.
No próximo São João nós é que ficaremos tristes com a ausência de seu Antônio, mas certos de que estará zelando pelo seu grande fã clube na companhia de Jesus Cristo e outros apreciadores de seu repertório que, como ele, não estão mas entre nós.
*Jornalista e escritor
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