Victor Missiato, analista político, doutor em História Política e professor do Colégio Presbiteriano Mackenzie - Tamboré.
No dia 7 de setembro de 1822, boa parte do território brasileiro amanheceu e dormiu sem saber que no dia posterior uma nova nação monarquista e continental surgia em meio a um conjunto de várias repúblicas na América do Sul. Passaram-se algumas semanas até que as notícias decorrentes do posicionamento de Dom Pedro às margens do rio Ipiranga chegassem aos olhos e ouvidos de boa parte de seu futuro povo. Apenas em outubro, quando houve sua coroação, é que a maioria dos brasileiros teve ciência do processo de independência. Isso não significa, contudo, que outras lutas não estavam sendo travadas em diferentes regiões do país, por meio de diferentes tipos de grupos e lideranças contra a presença lusitana nesses locais.
Ao contrário da versão oficial apresentada em muitos livros didáticos, o processo de independência, ao longo de várias décadas, não foi singular e nem protagonizado apenas por divergências familiares e interesses distintos entre o Rio de Janeiro e Lisboa. Com base em vários estudos, podemos afirmar que estavam sendo gestados vários Brasis naquela conjuntura. Nos últimos anos do século XVIII, influenciados pelas ideias revolucionárias da Europa e EUA, movimentos políticos de Minas Gerais, Bahia e Rio de Janeiro começaram a questionar o papel da metrópole portuguesa no controle da economia colonial. Não se tratava, ainda, de movimentos expressamente separatistas, mas seus legados deixariam marcas na cultura política do nativismo brasileiro.
A porta de entrada da Independência Nacional começou a ser construída quando em Pernambuco, em 1817, eclodiu uma revolta que abalaria as estruturas do poder metropolitano instalado na colônia desde 1808, após as invasões napoleônicas. Articulada com outras províncias e em contato com diversas lideranças fora do Brasil, a Revolução Pernambucana instituiu um regime republicano antes da definitiva separação entre Brasil e Portugal. Sua principal bandeira era contra a cobrança de impostos derivada dos gastos relacionados à presença da Família Real no Rio de Janeiro. Remonta daquele período, portanto, as diversas crises relacionadas ao desigual pacto federativo, que ainda ressoa em nossa política contemporânea. Derrotada pelas tropas reais, a Revolução Pernambucana viria a influenciar outros movimentos revoltosos na região ao longo do século XIX.
Após o retorno da Família Real para a Europa, em 1820, as revoltas no Brasil começaram a se multiplicar. A partir do início de 1822, tropas portuguesas começaram a sofrer com o descontentamento da sociedade baiana, pois a metrópole portuguesa, ciente dos movimentos separatistas no país, resolveu intensificar a repressão contra qualquer onda subversiva. Muitos conflitos foram travados, gerando uma série de revoltas devido ao uso da violência. Neles, mulheres como Maria Quitéria, Maria Felipa e Joana Angélica ganharam notoriedade na luta pela independência nacional.
Enquanto Bahia e Pernambuco demonstravam pleno vigor na luta contra os portugueses, outras regiões adotaram posições políticas favoráveis à manutenção do vínculo com Portugal. Uma das principais foi o Grão-Pará, que apenas em agosto de 1823 uniu-se à independência nacional. Grande parte da elite grão-paraense era de origem portuguesa, pois embora a colônia mantivesse vínculos políticos e, principalmente, comerciais entre as províncias, não havia uma organicidade identitária entre elas. Belém estava mais próxima das ideias portuguesas do que das ideias fluminenses. Após uma forte pressão de Dom Pedro I, o Grão Pará assinou o documento de adesão ao Brasil quase um ano após o Grito do Ipiranga.
A complexidade e diversidade dos movimentos de independência no Brasil, ao contrário de enfraquecer a construção de uma unidade nacional, nos impele a (re)pensá-lo como um espaço vivo, aberto a inserção de novos atores e problemas, transformando o estudo da nação em um pensamento contínuo, evitando, desse modo, unidades excludentes, que acabam por enfraquecer e diminuir nossa compreensão acerca da nossa rica história.
Sobre os Colégios Presbiterianos Mackenzie
Os Colégios Presbiterianos Mackenzie são reconhecidos, hoje, pela qualidade no ensino e educação que oferecem aos seus alunos, enraizada na antiga Escola Americana, fundada em 1870, por George e Mary Chamberlain, em São Paulo. A instituição dispõe de unidades em São Paulo, Tamboré (em Barueri-SP), Brasília (DF) e Palmas (TO). Com todos os segmentos da Educação Básica - Educação Infantil (Maternal, Jardim I e II), Ensino Fundamental e Ensino Médio, procura o desenvolvimento das habilidades integrais do aluno e a formação de valores e da consciência crítica, despertando o compromisso com a sociedade e formando um indivíduo capaz de servir ao próximo e à comunidade. No percurso da história, o Mackenzie se tornou reconhecido pela tradição, pioneirismo e inovação na educação, o que permitiu alcançar o posto de uma das renomadas instituições de ensino que mais contribuem para o desenvolvimento científico e acadêmico do País.
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