A Fome dos Vereadores de Caicó - Blog A CRÍTICA
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quinta-feira, 20 de março de 2025

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A Fome dos Vereadores de Caicó

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Ainda não esquecemos, como soía ocorrer na pátria dos conformados, o famigerado ato do auxílio-alimentação votado pelos vereadores de Caicó na abertura do Carnaval, a festa da alienação do povo brasileiro, e olhe que é melhor ser triste do que ser burro. Sancionado pelo prefeito na sexta-feira do mesmo Carnaval de 2025, esse ato pôs a nu a falsidade do debate público aqui no monturo do terceiro mundo. Nada mais próprio: uma cidade foliona aplaudindo, sem saber, a pantomima dos que a governam.


Auxílio-alimentação nos lembra fome. Quem muito trabalha sente fome. Quanto mais pesado o labor, maior a fome; na internet falam de fome de pedreiro. Pois bem, a fome dos vereadores de Caicó é outra: é a fome de ética, a fome de espírito público, a fome de honestidade. Mas não nos adiantemos.


Fome, eis a palavra. Há fomes e fomes. Há a fome dos que dormem com a barriga colada às costas e a fome dos que dormem sobre travesseiros recheados de moedas. A primeira mata, a segunda multiplica-se. A fome do pobre é a do estômago vazio, a do vereador é a dos bolsos fundos. O populacho quer um prato de comida; os edis, uma mesa farta e cativa, paga sem susto pelo contribuinte, aquele mesmo que, na manhã seguinte ao Carnaval, acordará com gosto de ressaca e a realidade de um novo tributo.


A fome rende votos. Já dissemos aqui que cesta básica no Brasil faz mais heróis do que a guerra. O eleitor, de bucho vazio, vende-se a troco de feijão. Mas, enquanto a fome do pobre se sacia com arroz de terceira e carne imprópria, a fome dos vereadores é insaciável. Dá-lhes um quinhão, e querem dois; dá-lhes dois, e exigem quatro. Se o povo passa fome, eles sentem mais fome do povo. Mas não de comida: de benesses, de vantagens, de mimos pagos pelo erário.


É fome que não se sacia. Como outrora, os fidalgos das capitanias, que tomavam a terra e exigiam o trabalho dos alheios, esses edis modernos alargam os cintos das regalias, enquanto o populacho, em sua ilusão perpétua, celebra o Carnaval. O povo pula e canta, os tamborins rufam, e eles engolem, de boca cheia, o prato farto da impunidade.


Fome de verdade não tem sanção. Não se aprova em sessão solene, não se vota na calada da noite. A fome de quem nada tem morre calada, sem diplomas nem decretos. Já a fome dos vereadores é laureada, publicada no diário oficial, celebrada entre brioches e espumantes. “Que comam brioches!”, diriam em outros tempos. Por cá, nem precisam dizer. Já comem.


E comem bem.

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