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quarta-feira, 5 de março de 2025

Trump intensifica tarifas comerciais: quais os impactos para os mercados globais?

Por Jonatas Pires Faura, especialista em Asset Allocation na WIT Invest

Jonatas Pires Faura, especialista em Asset Allocation na WIT Invest - Créditos: Divulgação


  • O que essa nova tributação comercial representa dentro da estratégia econômica do governo Trump?

Desde seu primeiro mandato, Trump vem adotando medidas protecionistas. Agora isso se intensificou durante o segundo mandato, alegando que os EUA estão em desvantagem em acordos comerciais globais. 

Trump alega que tais medidas têm o objetivo de fortalecer a indústria interna e reduzir déficits comerciais com outros países. O Canadá e México foram alvo de tais políticas, principalmente, para atender certas demandas políticas, por exemplo, o controle das fronteiras para mitigar o tráfico de drogas e imigrantes ilegais para os EUA.

A tributação também está alinhada com sua visão de "America First" e "MAGA" (Make America Great Again), buscando proteger e atrair empresas para produzir mais internamente e proteger empregos nos EUA. Porém, o ônus disso é uma guerra comercial e política entre aliados e não aliados. A dúvida que fica para os próximos anos de mandato Trump é: Até onde ele está disposto a ir com essas políticas e até quando ele consegue manter essa pose de "não precisamos de vocês"?

 

  • Quais setores e países devem ser mais impactados por essas tarifas?

Os países mais afetados diretamente são Canadá, México e China. Porém, mais adiante, esse tipo de medida pode ser estendida para outros países, como o Brasil. E com isso, quero dizer diretamente, pois indiretamente muitos países já mensuram como essas medidas iniciais vão impactar suas economias e se estão no radar para serem os próximos "alvos".

Os setores mais impactados serão o automobilístico, pois muitas empresas dentro do Canadá e México exportam peças para os EUA. Isso tende a encarecer esses carros na ponta para o consumidor. O setor industrial, pois a China é o maior exportador de bens manufaturados para os EUA, principalmente componentes eletrônicos e industriais. Mineração e metais, com as tarifas sobre aço e alumínio, países como Canadá e Brasil também podem ser afetados, pois são grandes fornecedores para os EUA desses materiais. Além dos impactos diretos, empresas multinacionais podem sofrer perdas por terem suas cadeias de suprimentos interrompidas ou encarecidas.

 

  • Como essa decisão se alinha com as políticas protecionistas empregadas anteriormente pelos EUA?

Desde o primeiro mandato de Trump, ele impôs tarifas sobre aço e alumínio em 2018, além de iniciar uma guerra comercial contra a China com tarifas sobre produtos chineses que somavam centenas de bilhões de dólares em arrecadação.

Então, essas novas tarifas se alinham com esse histórico protecionista e reforça a ideia de que os EUA continuarão a utilizar barreiras comerciais para tentar equilibrar sua balança comercial e proteger a indústria nacional. Além disso, instaurando essas medidas agora sobre a China, que hoje é seu maior rival geopolítico, podem ser usadas no futuro como moeda de negociação.

 

  • Quais são as principais projeções para os mercados globais após a implementação dessas tarifas em março?

Como já foi visto durante essa semana no mercado global, a volatilidade nos mercados está acentuada. As bolsas globais sofreram quedas e oscilações, principalmente nos setores afetados pelas tarifas. Ativos mais seguros e de reserva de valor tendem a ser mais procurados, como ouro, títulos do Tesouro americano, etc.

Também é possível uma alta na inflação global para o médio-longo prazo. O aumento nos preços dos produtos dentro dos EUA, faz com que as exportações dos EUA levem o efeito inflacionário a se espalhar para outros países. Juntamente com a redução do crescimento econômico, as tarifas comerciais geralmente desaceleram o comércio global, reduzindo a atividade econômica e impactando projeções de crescimento para 2025 e 2026 dos países, o PIB.

 

  • Como os investidores estão reagindo a essa mudança até o momento?

Sem dúvida o mercado estará mais volátil e os investidores com cautela para fazer alocações em ativos e setores que podem se tornar alvo de novas medidas tarifárias.

Muitas empresas que serão impactadas diretamente já registraram quedas devido à preocupação com aumento nos custos e possível diminuição na demanda.

O ouro, que é um ativo de proteção contra incertezas econômicas, vem se apreciando muito forte desde 2024.

Investidores estão migrando para ativos considerados mais seguros, como títulos do Tesouro americano. Aqueles que buscam ainda maior proteção, compram imóveis, terras e ouro. Nos últimos dias temos visto quedas acentuadas nas empresas de tecnologia, principalmente nas 7 magníficas.

 

  • Há risco de aumento da inflação global como reflexo dessas tarifas?

Sim, tarifas tendem a aumentar a inflação, pois encarece produtos importados, levando as empresas a repassarem esses custos aos consumidores. Nos EUA, isso pode dificultar o trabalho do Federal Reserve, que já luta para conter a inflação.

No Brasil e outros mercados emergentes, o custo maior para produção americana irá ser refletida no preço de produtos importados, causando uma pressão inflacionária nesses países.

 

  • Como o Brasil será afetado por essas novas tarifas? Quais setores deverão sentir o maior impacto? Como as exportações brasileiras serão influenciadas?

O Brasil não é o principal alvo dessas medidas, mas pode sofrer impactos indiretos, pois, com a economia global desacelerando, espera-se uma menor demanda por commodities, impactando a demanda por produtos brasileiros como soja, minério de ferro e carne. Logo, um impacto no setor de empresas exportadoras também deve ser refletido em seus balanços e preço no mercado acionário brasileiro. E, com um cenário de incerteza, faz com que investidores busquem refúgio no dólar, podendo pressionar a taxa de câmbio no Brasil.

 

  • Como os países afetados estão reagindo a essa medida? Existe risco de retaliação comercial por parte da China, Canadá, México e outros parceiros estratégicos?

Sim, esses países tendem a retaliar de alguma forma. A China, México e Canadá já indicaram que podem responder com suas próprias tarifas sobre produtos americanos. Isso pode iniciar uma nova guerra comercial, prejudicando empresas e consumidores de ambos os lados.

A China, por exemplo, pode impor tarifas sobre produtos energéticos e agrícolas, como carvão, gás natural, petróleo e produtos agrícolas dos EUA, impactando diretamente os agricultores dos EUA. 

O México pode dificultar a exportação de insumos industriais para as montadoras americanas. Mas nada concreto ainda foi veiculado, apenas ameaças da presidente Claudia Sheinbaum.

E no Canadá, o primeiro-ministro Justin Trudeau anunciou a imposição de tarifas de 25% sobre produtos importados dos EUA, abrangendo setores como alimentos, têxteis e móveis, totalizando C$30 bilhões, com planos de expansão para C$125 bilhões.

 

  • Como empresas exportadoras podem se preparar para mitigar os impactos das novas tarifas?

Empresas que exportam para os EUA ou dependem da cadeia global de suprimentos podem se expandir para outros mercados, buscando outros países para exportar e reduzir a dependência dos EUA.

Aumentar a eficiência logística e reduzir custos. Assim, melhorando a produtividade e por consequência seus lucros.

Empresas podem conseguir exceções e benefícios com acordos bilaterais, para explorar oportunidades de comércio com outros países que não estejam sujeitos a tarifas.

 

  • Como a implementação dessas tarifas pode influenciar o apetite ao risco dos investidores internacionais?

Tudo isso faz com que os investidores reduzam a exposição a ativos de risco, como ações e mercados emergentes. Isso significa uma fuga de capital de países emergentes para ativos considerados seguros, como o dólar, ouro e títulos do Tesouro americano. E como o Brasil é considerado um país emergente, pode reduzir o volume de investimentos estrangeiros.

 

  • Como os investidores podem se proteger dos impactos dessas tarifas em suas carteiras?

Diversificação global tem sido cada vez mais necessária para investidores que visam o longo prazo. Ter ativos em diferentes mercados reduz o impacto de choques em regiões específicas. Hoje em dia está fácil conseguir acesso a esse tipo de aplicação, coisa que 10, 20 anos atrás eram apenas para investidores profissionais, institucionais ou com muito capital.

Se quer manter exposição em renda variável, foque em setores como saúde, consumo básico e utilities, pois tendem a ser mais resilientes em tempos de incerteza.

E para aqueles que querem manter exposição interna, é bom ter um hedge cambial, protegendo investidores com exposição para reduzir riscos.

Aumentar posição em ouro e renda fixa é recomendado por especialistas, pois ativos de proteção podem ajudar a minimizar perdas em momentos de volatilidade.

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